Chanceleres da Ucrânia e da Rússia se encontram pela primeira vez desde início da guerra

Pela primeira vez desde o início da invasão da Ucrânia pelo exército da Rússia, os principais diplomatas das duas nações envolvidas no conflito irão se encontrar. O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, irá se reunir com o chanceler russo, Sergey Lavrov, na manhã desta quinta-feira (10), no sul da Turquia. 

Comparada aos encontros que já aconteceram entre negociadores ucranianos e russos, a reunião desta quinta será a que envolve autoridades de maior nível dos dois países desde que o conflito começou. A expectativa é que os chanceleres conversem sobre a abertura de mais corredores humanitários e condições para uma pacificação do conflito.

O encontro deve ser mediado pelo ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, e acontecerá durante um fórum diplomático com duração de três dias organizado pelo país anfitrião e sediado na cidade de Antalya.

Embora faça parte da Otan e seja aliada da Ucrânia, a Turquia também mantém uma relação próxima com a Rússia e, desde o início do conflito, tem se esforçado para preservar contato com os dois países.

Mesmo classificando a invasão russa como “inaceitável”, o governo turco se opõe a sanções contra Moscou e condenou a “caça às bruxas” contra a cultura russa.

Antes do encontro, o chanceler ucraniano confessou que tem expectativas limitadas em relação às negociações com o governo da Rússia. “Mas direi francamente que minhas expectativas das conversações são baixas”, disse Kuleba em uma declaração em vídeo.

“Estamos interessados em um cessar-fogo, na libertação de nossos territórios e o terceiro ponto é a resolução de todas as questões humanitárias”, completou o ministro.

 

Obstáculos para a pacificação

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, chega para o encontro carregando as diversas acusações do governo do país de que as tropas russas estão atacando sistematicamente cidades ucranianas e, inclusive, causando a morte de civis.

Autoridades ucranianasacusaram as tropas russas de realizarem um bombardeio a prédios públicos que teria atingido também uma maternidade e um hospital infantil em Mariupol, no sul da Ucrânia. 

O suposto ataque militar ainda teria atingido prédios apontados como da Universidade Técnica Estadual de Pryazov e da Administração do Conselho Municipal de Mariupol.

De acordo com o Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, pelo menos 516 civis foram mortos na Ucrânia desde que o exército da Rússia invadiu o país. Além disso, cerca de 908 civis também ficaram feridos.

Ainda de acordo com as Nações Unidas, a guerra em território ucraniano já fez com que mais de 2 milhões de pessoas deixassem o país, segundo a Agência de Refugiados da ONU (Acnur). A maior parte deles é composta por mulheres, crianças e idosos.

No entanto, o governo da Rússia classifica as acusações ucranianas como falsas e diz que o Ocidente promove uma campanha de "russofobia". A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, acusou países europeus e os Estados Unidos, bem como a mídia, de darem apoio a ideias “extremistas”.

 

Histórico de negociações conturbadas

Em duas semanas de guerra, representações da Ucrânia e da Rússia já se sentaram à mesa em três oportunidades para negociarem.

Na última ocasião, os representantes dos dois países tiveram “pequenos desenvolvimentos positivos” quanto à questão dos corredores humanitários para saída de refugiados e chegada de suprimentos a algumas cidades, segundo os negociadores ucranianos.

Mesmo assim, ainda de acordo com os ucranianos, as conversas não levaram a um resultado que “melhore significativamente a situação”.

O negociador russo Vladimir Medinsky afirmou que as negociações “não são fáceis” e “é muito cedo para falar sobre algo positivo”.

Embora o governo da Rússia diga que abriu os corredores humanitáiros em cinco cidades ucranianas, entre elas a capital Kiev, autoridades do governo ucraniano acusam o exército russo de continuar os bombardeios nas regiões do cessar-fogo. 

Pelo Twitter, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da Ucrânia, Oleg Nikolenko, afirmou nesta terça que forças russas bombardearam uma rota de evacuação para civis presos em Mariupol. A Rússia não se manifestou sobre a acusação.

Enquanto isso, o lado russo alega que neonazistas e radicais ucranianos estejam atirando nos civis que tentam deixar o país. Em discurso no Conselho de Segurança da ONU, o embaixador da Rússia, Vasily Nebenzya, disse que há “evidências em vídeo” de que quando os refugiados chegavam aos postos de controle, “eram executados pelos nazistas ucranianos”.

 

CNN-Brasil - Liberdade FM